O abuso do slogan – do sucesso à irrelevância
Francisco Ferraz
Publicado em: 11/07/2016
Brasil: país de um único slogan
Slogans quando ‘pegam’ se reproduzem como coelhos.
Na medida mesmo em que se reproduzem em larga escala perdem aquelas qualidades que levaram tantos a adotarem-no, copiando e sinonimizando o.
A lógica do slogan, contudo é outra. Com ele se deseja alcançar o maior número de consumidores (marketing comercial) ou eleitores (marketing político) possível. O slogan gruda no produto ou no candidato de forma exclusiva. Seu alcance se amplia, mas seu referente é um só. Coca Cola é sempre o mesmo produto que serve de referência objetiva (existencial) ao slogan que lhe é exclusivo.
No Brasil, tinha que ser diferente.
Se universaliza o slogan e ele passa a ser adotado, por toda a sorte de produtos.
Desde a primeira eleição de Lula e, seguindo o exemplo de sua candidatura, abusa-se do uso de slogans contendo expressões que substituem o candidato, o partido, a coligação, à doutrina, à ideologia por uma vaga referência à coletividade: “somos”; “todos”; “juntos”; “unidos”.
São expressões encapsuladas em slogans que levam a substituir, a autoria e responsabilidade identificável comprometida com um objetivo a ser realizado, por uma identidade coletiva, vaga e vazia, que se resume a um jogo de palavras meramente publicitário cujo significado no mundo real é inexistente.
Busca-se, com este exemplo de mau profissionalismo, a aceitação fácil, ufanista e sem conteúdo que se encontraria numa unidade social, sem nenhuma objetividade no mundo real: “somos”; “todos”; “juntos”; “nós”; “unidos”, mesmo aplicando-se a tarefas que supõem execução individual ou grupal, mas, em todo o caso competitivas.
É a propaganda enganosa que ninguém contesta, mas também que não informa quem é o responsável e em que medida, pela execução do objetivo que se apresenta como coletivo na sua aspiração e forma de realização.
Implicitamente argui-se que a maneira certa de realizar algo (qualquer algo) é a maneira coletiva. Que qualquer outra forma que se afaste do modo coletivo é uma distorção, é uma forma imperfeita e até mesmo desvirtuada de realização.
Como não é possível negar a divisão do trabalho, com a inevitável especialização, competência, responsabilidade individual ou de grupo, à propaganda do coletivismo corresponde a práxis do líder individual e absoluto que comanda a totalidade livre de responsabilidade.
Não surpreende então que, algumas autoridades, quando cobradas por suas faltas ao governar evitam responder e recorrem à técnica dos 3 macaquinhos: Não vi, Não ouvi, Não falo.
É a voz do líder autoritário, com todos os poderese nenhuma das responsabilidades.
A seguir uma lista desses slogans ‘placebos’, recolhidos facilmente de algumas horas de TV.
- Juntos para Competir
- Juntos podemos muito mais (PSC)
- O Brasil todo dança junto. (cartaz programa do Faustão)
- Movimento vamojunto – Casas Bahia
- Todos juntos fazem um trânsito melhor –
- Todos juntos para fazer o Brasil trabalhar melhor – FAT
- Fox: torcemos juntos
- Todos contra o Aedes Aegypti
- Juntos somos mais fortes que o mosquito
- Juntos podemos - PSOL
- Unidos vamos trabalhar por um Brasil mais inteligente – PSL
- Juntos podemos vencer esta luta (Mutirão limpeza nos prédios)
- Juntos fazemos acontecer )
- Juntos somos mais fortes ) Publicidade sobre Olímpiada
- Juntos somos todos Brasil )
- Unidos contra o Aedes (avião fumaça em Copacabana)
- Vamos juntos somar forças (Gov. Federal)
- Somos todos campeões (Olimpíadas; isto que ainda nem começaram!)
- Juntos em prol do impeachment (Antagonista)
- Juntos por um mundo melhor (Ambev)
Como se constata nessa pequena porção de exemplos, parece que não é difícil fazer publicidade... Em todo o caso não se exige mais necessariamente criatividade e imaginação.
Além disso, essas expressões são usadas por partidos e políticos de situação e oposição; de direita, centro, esquerda e a “soi disant” extrema esquerda; para fazer o impeachment e para evita-lo; sempre presente nos programas partidários gratuitos na TV e rádio; serve para ganhar (Olimpíada), para liquidar (Aedes Aegypti), para dançar (todos juntos???), para corrigir o trânsito, para vender cerveja, eletrodomésticos e móveis (Casa Bahia); para o modesto objetivo de construir um mundo melhor ...
Opinião do leitor
Como assessora de político, tenho obtido deste site informações interessantes para o meu trabalho. No momento, estou lendo do Francisco Ferraz " Manual Completo de Campanha Eleitoral". Já fiz dele o meu livro de cabeceira. Parabéns e sucesso.
Sandra Suely Reuter
Teixeira de Freitas - BA